China e EUA entram em acordo sobre tarifas; entenda
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Segundo o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, ambos os lados cortarão as tarifas em 115% a partir de quarta-feira (14/5).
Isso significa que as tarifas americanas sobre as importações chinesas cairão para 30%, enquanto as tarifas chinesas sobre produtos americanos cairão para 10%.
Representantes dos dois países se reuniram em Genebra, na Suíça, durante o fim de semana.
Em um comunicado conjunto sobre o acordo, ambos os lados concordaram em “estabelecer um mecanismo para continuar as discussões sobre relações econômicas e comerciais”.
Eles ainda reconheceram a “importância de suas relações econômicas e comerciais bilaterais para ambos os países e para a economia global” e afirmaram que novas rodadas de negociação podem ser realizadas no futuro nos EUA ou na China.
O ministro do Comércio chinês, Wang Wentao, disse esperar que os EUA “continuem trabalhando com a China” no comércio.
Inicialmente, também cairia sobre a China uma tarifa extra, de 20%, relacionada ao fentanil. Mas Trump afirmou que o país asiático concordou em interromper o envio do medicamento aos EUA, e a taxa foi suspensa.
“E eles concordaram que vão impedir isso”, disse Trump.
A China é a principal fonte dos precursores químicos usados na produção de fentanil, que mataram mais de 74.000 americanos em 2023 após o uso de misturas contendo fentanil, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC).
Estados Unidos e China se envolveram nas últimas semanas em uma crescente rivalidade.
O anúncio no início de abril feito por Trump, de que seriam aplicadas tarifas de 34% sobre produtos chineses gerou uma retaliação em igual medida de Pequim.
Isso desencadeou novos golpes e contra-golpes de ambos os lados que resultaram em tarifas americanas que somaram 145% contra a China e de tarifas de 125% sobre produtos americanos importados pela China.
Os anúncios geraram instabilidade nas bolsas de valores e temores de recessão e impactos negativos na economia global.
A correspondente da BBC em Pequim, Laura Bicker, afirma que as autoridades chinesas estavam começando a se preocupar com o impacto das tarifas americanas. Bessent também reconheceu no mês passado que a situação havia se tornado insustentável.
Após o anúncio do acordo nesta segunda, o valor do dólar americano e do yuan chinês subiram.
‘Um corte maior do que o esperado’
Segundo Theo Leggett, correspondente de negócios internacionais da BBC, o corte tarifário foi maior do que o esperado – “e isso foi bem recebido pelos analistas”.
A tarifa atual dos EUA, de 30%, ainda é alta – mas foi descrita por analistas como “administrável”.
“Por enquanto, as notícias de hoje estão sendo vistas como um avanço bem-vindo”, diz Leggett.
Na Casa Branca, Trump disse aos repórteres que não espera que as tarifas americanas retornem a 145% após o fim da pausa de 90 dias.
Ele afirmou repetidamente que Pequim quer “muito” fechar um acordo e evitar um retorno ao pior da guerra comercial entre EUA e China.
À Fox News, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, classificou o acordo como “um primeiro passo extraordinário na direção certa”.
A China também concordou em “continuar as discussões” sobre a abertura adicional de seu mercado a produtos e bens americanos, afirmou ela, e em “continuar discutindo seriamente o grave impacto que o fentanil produzido na China está tendo” nos EUA.
“O presidente Trump continuará as negociações com a China para que possamos, com sorte e inevitavelmente, chegar a um acordo comercial amplo, justo e abrangente”, acrescenta.
O presidente americano também afirmou que está previsto um encontro com o presidente chinês, Xi Jinping, “talvez no fim da semana”.
90 dias serão o suficiente?
Jonathan Josephs, repórter de Negócios, avalia que o tempo de 90 dias estabelecido para a redução das tarifas dá aos negociadores americanos e chineses a chance de aliviar as tensões que atingiram a economia global desde janeiro.
No entanto, ele lembra que houve negociações entre as duas maiores economias do mundo durante a maior parte do primeiro mandato de quatro anos de Trump, que trouxeram sucesso limitado.
Um “Acordo Comercial de Fase Um” foi firmado em janeiro de 2020, no qual a China se comprometeu a aumentar as importações americanas em 200 bilhões de dólares acima dos níveis de 2017 e a fortalecer as regras de propriedade intelectual.
Em troca, os EUA cortaram algumas tarifas. Mas a China nunca conseguiu atingir suas metas de compra — e ainda há reclamações sobre proteções à propriedade intelectual.
Além disso, nos anos seguintes, ambos os lados adicionaram restrições ao comércio entre si.
A dificuldade em superar suas diferenças aponta para o conflito mais fundamental de longo prazo entre as duas maiores economias do mundo.
A economia da China é gerida com muita influência do governo, o que não se coaduna com o capitalismo de livre mercado dos Estados Unidos — e, em particular, com as falhas que Trump identificou e está tentando resolver com sua guerra comercial.