Lula: ação de Trump contra o Brasil ‘não é intromissão pequena’
Crédito, REUTERS/Adriano Machado
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira (6/8), em entrevista à agência de notícias Reuters, que não ligou para a Casa Branca para negociar as tarifas de 50% sobre o Brasil porque o presidente Donald Trump não demonstrou interesse em fazer acordos.
“Um presidente da República não pode ficar se humilhando para o outro. Eu respeito todo mundo. Eu exijo respeito comigo”, disse.
“No dia em que minha intuição disser que Trump está disposto a conversar, não vou hesitar em ligar para ele”, disse Lula em entrevista em Brasília. “Mas hoje minha intuição diz que ele não quer conversar. E eu não vou me humilhar.”
As tarifas de 50% contra produtos brasileiros entraram em vigor nesta quarta. Segundo Lula, o Brasil não vai adotar tarifas recíprocas contra os produtos americanos.
“Não vou fazer porque não quero ter o mesmo comportamento do presidente Trump. Porque quando um não quer, dois não brigam. E eu não quero brigar com os Estados Unidos”, declarou.
Na entrevista, Lula também comentou a justificativa de Trump de aplicar as tarifas ao Brasil devido ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Na carta em que anunciou a taxa extra, o americano disse que há “caça às bruxas” contra seu aliado brasileiro.
“Não é uma intromissão pequena, é o presidente da República dos Estados Unidos achando que pode ditar regras a um país soberano como o Brasil. E não é admissível que nem os Estados Unidos, nem nenhum país, grande ou pequeno, resolva dar um pitaco na nossa soberania”, disse Lula.
“Ele que cuide dos Estados Unidos. Do Brasil, cuidamos nós. Só tem um dono nesse país. E só um dono: o mandato do presidente da República é do povo. O povo que elegeu, o povo que pode tirar.”
O presidente também confirmou que deve ligar para Trump para convidá-lo para a Cúpula do Clima, a COP30, em Belém, em novembro.
Lula disse ainda que não tem “nada contra” Trump e que pode se encontrar com ele na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York, em setembro.
Taxação autoritária
Lula descreveu à Reuters que as relações entre Brasil e EUA em seu pior momento em 200 anos.
“Nós acreditamos que um país que tem 201 anos de relação diplomática muito civilizada não vai jogar isso fora por causa, muitas vezes, de uma atitude destemperada de um presidente”, disse.
“Poderia ter ligado, poderia ter proposto negociação, mas nós recebemos o comunicado da taxação de forma totalmente autoritária. E não é assim que nós estamos acostumados a negociar.”
O presidente disse que os ministros brasileiros têm tido dificuldade de conversar com o governo americano e que o Planalto está focado em amenizar o impacto econômico contra empresas brasileiras.
Lula declarou que pretende ligar para líderes do Brics, como Índia e China, para discutir a possibilidade de uma resposta conjunta às tarifas dos EUA.
“Vou tentar discutir com eles sobre como cada um está nesta situação, quais são as implicações para cada país, para que possamos tomar uma decisão”, declarou Lula.
“Ele (Trump) quer desmontar o multilateralismo, onde os acordos são feitos coletivamente dentro das instituições, e substituir pelo unilateralismo, no qual ele negocia individualmente com outros países”.
Crédito, REUTERS/Adriano Machado
Bolsonaro
Sobre Bolsonaro, Lula disse o ex-presidente deveria enfrentar novas acusações por supostamente influenciar Trump a aplicar tarifas contra o Brasil.
“Ele deveria enfrentar mais processos judiciais pelo que está fazendo, incitando os Estados Unidos contra o Brasil, causando prejuízo à economia brasileira, causando prejuízo aos trabalhadores brasileiros.”
“Não há precedente na história de um presidente da República e de um filho [Eduardo], que é deputado, irem aos Estados Unidos incitar o presidente contra o Brasil”, disse Lula, chamando a família Bolsonaro de “traidora da pátria”.
Lula enfatizou que o Supremo Tribunal Federal é independente e agora está processando o ex-líder com base exclusivamente em provas legais, sem qualquer interferência dos EUA.