Mauro Cid e Gilson Machado: delator depõe na PF após prisão de ex-ministro acusado de ajudá-lo a obter passaporte; o que se sabe
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Machado é suspeito de ter tentado ajudar o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid, a obter um passaporte português.
A informação foi confirmada à BBC News Brasil pela Procuradoria-Geral da República.
Cid é alvo de um mando de busca e apreensão executado pela PF em Brasília.
O jornal Folha de S. Paulo noticiou que os policiais chegaram à casa do militar munidos de um mandado de prisão, mas foram informados lá que a detenção havia sido revogada pelo ministro Alexandre de Moraes.
O ex-auxiliar de Bolsonaro foi chamado para depor na sede da PF em Brasília sobre as novas acusações. Ele deixou o local por volta de 14h30, sem falar com a imprensa.
Ao portal UOL, ele negou que tenha pedido para o ex-ministro de Bolsonaro conseguir um passaporte para ele e que apenas deu entrada em um pedido de cidadania portuguesa em janeiro de 2023.
Segundo a PF, Gilson Machado teria atuado junto ao Consulado de Portugal em Recife em maio de 2025 para tentar um passaporte português para Cid, o que permitiria ao auxiliar de Bolsonaro deixar o país.
No início desta semana, em entrevista à colunista Mônica Bergamo, Machado negou ter ido a qualquer consulado e disse que, no mês passado, telefonou para o consulado português para agendar a renovação do passaporte de seu pai.
Veterinário e integrante de uma banda de forró, Machado ficou conhecido como “sanfoneiro” de Bolsonaro, por participar das transmissões ao vivo do ex-presidente, quando era ministro, sempre tocando sanfona.
Tentou se eleger senador de Pernambuco pelo PL em 2022 e, depois, disputou a prefeitura de Recife em 2024 pelo mesmo partido, mas perdeu as duas eleições.
No dia anterior à prisão, Machado estava ao lado de Bolsonaro em viagem a Natal (RN).
“Encerrando o primeiro dia de atividades no Rio Grande do Norte, ao lado do nosso presidente. Simbora que amanhã tem mais!”, postou o ex-ministro no Instagram, em uma foto ao lado de Bolsonaro.
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Delação de Mauro Cid está em jogo?
Caso se confirme uma tentativa de fuga do país, a revelação de uma suposta movimentação de Cid para obter um passaporte português pode ter implicações para seu acordo de colaboração com a Justiça.
Em setembro de 2023, Mauro Cid firmou um acordo de delação premiada, em que aceitou revelar supostos detalhes de crimes cometidos por Bolsonaro e outros integrantes do seu governo em troca de punições mais leves para si.
Assim, Mauro Cid se tornou uma peça central no processo por tentativa de golpe de Estado Bolsonaro e outros sete ex-integrantes do seu governo, sendo três generais do Exército — Augusto Heleno (ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional), Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa) e Braga Netto (ex-ministro da Casa Civil).
O próprio Cid é um dos oito réus acusados pela PGR de integrar o “núcleo crucial” que teria liberado a tentativa de ruptura democrática.
O acordo de colaboração veio após o militar ser preso em maio de 2023, após uma operação que investigava falsificação de cartões de vacinação de Bolsonaro, parentes e assessores. Quando sua delação foi homologada, ele foi solto.
Cid também é investigado por suposto envolvimento no desvio de joias sauditas que Bolsonaro ganhou quando era presidente.
O ex-presidente e outros réus no processo por tentativa de golpe de Estado negam as acusações e suas defesas questionam a credibilidade da delação de Cid, já que ele mudou o teor da sua colaboração ao longo das investigações.
Em março de 2024, o acordo esteve prestes a ruir. O militar foi preso novamente, desta vez por obstrução de Justiça e descumprimento de medidas cautelares.
O pano de fundo para essa nova prisão de Cid foi o vazamento de áudios, pela revista Veja, em que ele dizia estar sendo pressionado pela PF para delatar integrantes da trama golpista.
Naquele momento, ele foi interrogado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, mas ganhou o direito de seguir em liberdade, após se retratar.
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Em novembro, mais uma vez a colaboração esteve em risco. Isso ocorreu quando Cid foi convocado novamente a depor, depois que a PF entregou seu relatório apontando detalhes relevantes que o militar não havia mencionado durante a sua colaboração.
Em especial, o plano “Punhal Verde e Amarelo”, que visaria matar, no final de 2022, o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), além do ministro Alexandre de Moraes.
Moraes então convocou novamente Mauro Cid a depor, dizendo que aquela era a “última chance” para que ele falasse a verdade e ameaçando prendê-lo novamente, caso ele omitisse os fatos.
Bolsonaro e os demais réus negam a existência do plano para matar Lula, Alckmin e Moraes, e dizem que Cid mentiu para evitar uma nova prisão.