Tarcísio na Av. Paulista: ‘Ninguém aguenta mais tirania de Moraes’
Crédito, AFP
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- Author, Thais Carrança
- Role, Da BBC News Brasil em São Paulo
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), marcou presença neste domingo (7/9) em protesto em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na Avenida Paulista.
Tarcísio, que tenta conquistar o apoio de Bolsonaro para uma eventual candidatura à presidência nas eleições de 2026, defendeu a anistia para o ex-presidente e subiu o tom contra o Supremo Tribunal Federal (STF), criticando o que chamou de “tirania” do ministro Alexandre de Moraes.
Durante a fala do governador, manifestantes começaram a gritar “fora, Moraes”.
E Tarcísio respondeu: “Por que vocês estão gritando isso? Talvez porque ninguém aguente mais. Ninguém aguenta mais a tirania de um ministro como Moraes. Ninguém aguenta mais o que está acontecendo nesse país.”
O governador também defendeu que Bolsonaro possa disputar as eleições no próximo ano — publicamente, Tarcísio tem reiterado que Bolsonaro deve ser o candidato em 2026, embora nos bastidores ele articule sua própria candidatura.
“Vamos defender a nossa democracia representativa. E é fundamental que para isso as pessoas possam ser avaliadas nas urnas. Pra isso é fundamental que nós tenhamos Jair Messias Bolsonaro na eleição do ano que vem. Só existe um candidato pra nós que é Jair Messias Bolsonaro”, disse Tarcísio, em seu discurso.
Bolsonaro está inelegível desde 2023 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por uso da máquina pública para disseminar desinformação sobre as urnas eletrônicas. O ex-presidente não pôde participar dos atos deste domingo porque está em prisão domiciliar, após violar medidas restritivas impostas por Moraes.
“Nós temos um julgamento de um crime que não existiu”, disse ele. “Não existe uma ligação entre o 8 de janeiro e Jair Bolsonaro, não existe um documento, não existe uma ordem. Então, que história é essa? Como é que vão condenar uma pessoa sem nenhuma prova?”, questionou o governador.
“Uma única delação de um colaborador que mudou a versão seis sete vezes em três dias sob coação. Essa delação vale pra alguma coisa? Uma delação mentirosa.”
Na primeira semana do julgamento de Bolsonaro, o procurador-Geral da República, Paulo Gonet, reiterou em sua fala, no entanto, que as acusações contra Bolsonaro são baseadas em uma ampla gama de provas, para além da delação de Cid.
Anistia e bandeirão dos EUA
Tarcísio justificou sua defesa da anistia para Bolsonaro alegando que o processo contra o ex-presidente está “viciado”.
“A condenação sem prova abre uma ferida que nunca vai fechar. E se a gente está aqui hoje defendendo uma anistia, é porque a gente sabe que esse processo está maculado. A gente sabe que esse processo está viciado e essa anistia, assim como foi em 79, tem que ser ampla, tem que alcançar todo mundo, tem que ser irrestrita”, disse ele, fazendo referência à anistia concedida por crimes políticos praticados durante a ditadura militar no país.
Sóstenes Cavalcante, líder do PL na Câmara, inclusive disse que já há maioria dos deputados para pautar o assunto. Ele afirmou que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), teria avisado a líderes partidários que o assunto seria pautado — embora ainda não haja data determinada para isso.
Ele afirmou que a ideia é que a anistia abranja desde os atingidos pelo chamado “inquérito das fake news”, de 2019, ao “presente momento” — incluindo um mecanismo para beneficiar Bolsonaro, em caso de condenação do ex-presidente.
Na quarta-feira (3/9), no entanto, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) disse ao jornal Folha de S.Paulo que pretende apresentar uma proposta alternativa à que está em discussão na Câmara.
A ideia, que desagrada aos bolsonaristas, é apresentar um plano que reduza as penas dos envolvidos no 8 de janeiro, mas sem incluir um perdão a Bolsonaro.
Além de Tarcísio, estiveram no carro de som na Avenida Paulista o pastor Silas Malafaia, organizador do evento; a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro; o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema.
“Nós não temos plano B, nosso plano é Bolsonaro presidente”, disse Valdemar Costa Neto. “Vamos aprovar a anistia. O PP está com o PL, União Brasil, PSD. Nós temos maioria para aprovar a anistia.”
Em pleno Dia da Independência do Brasil, bolsonaristas levaram uma bandeira gigante dos Estados Unidos à Avenida Paulista.
Em publicação no X (antigo Twitter), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos EUA desde março, disse que a bandeira é um “agradecimento” ao presidente americano, Donald Trump.
Desde julho, Trump impôs tarifas de 50% contra produtos brasileiros, abriu uma ampla investigação comercial contra o Brasil e impôs sanções contra autoridades brasileiras, incluindo a aplicação da Lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes, pressionando pela absolvição de Bolsonaro no caso da tentativa de golpe.
Crédito, Reprodução/Redes sociais
Com informações da reportagem de Laís Alegretti e Mariana Alvim, da BBC News Brasil em Londres e em São Paulo